quinta-feira, 28 de março de 2013

Vingança

Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.

(Olhos nos olhos, Chico Buarque)


Vingança é um prato que se come frio?

Imagine você no seu trabalho, tendo que lidar com atendimento público, e aparece no seu balcão de atendimento uma pessoa que foi um ex-caso seu...uma pessoa que aprontou todas com você, e essa pessoa nem sequer a reconhece, tampouco se lembra de você.

É assim que Sara Gomes, protagonista de "Por isso eu sou vingativa", inicia sua saga de vingança. Faz uma lista de oito relacionamentos mal sucedidos de seu passado, onde levou pé na bunda e foi humilhada, e parte para dar o troco a cada um, anos depois. Recomendo! Diversão garantida.



Talvez você nunca tenha ouvido falar...
Talvez nunca tenha lido nada de Claudia Tajes...
Com certeza está perdendo uma ótima oportunidade.

Descobri essa gaúcha por acaso, atraído pelo título de um dos seus livros: "A vida sexual da mulher feia". Daí em diante, sempre que deparo com um livro dela, é certo conferir.

Voltando ao tema, se você é uma pessoa vingativa, diga ai o que essa mente maquiavélica já aprontou (medo de você).

Eu prefiro seguir com George Herbert: "a melhor vingança é viver bem".

E também com Marcia Tiburi:  "esquecer-se da vingança e simplesmente ser feliz é, de todas, a melhor forma de vingança".

E por que não Chico Buarque, como em Olhos nos olhos?

Agora, se eu souber que você leu algo de Claudia Tajes, e não me emprestou...todo esse altruísmo cai por terra, e pode esperar: me vingarei de você!

sexta-feira, 22 de março de 2013

Furto legal

Terminei de ler um livro que gostei muito: "Do calvário ao infinito". 

Com temática espírita, enfocando dentre tantos temas a lei de causa e efeito e a reencarnação, o autor consegue envolver os leitores numa bela trama, usando um vocabulário rebuscado (bem difícil sem dicionário), e nos fazendo refletir sobre muitas coisas para além do pano de fundo do romance, que por si só, já vale a leitura.


Por ser uma obra de 1944, achei esse trecho bem interessante, prática comum na época

“(...) Há um furto legal permitido por Deus, pelas diversas religiões do globo e por todos os Códigos dos países cultos ou bárbaros:  – consiste em ir alguém a um lar venturoso, cobiçar um dos seus mais belos ornamentos e usurpá-lo, com o assentimento dos lídimos possuidores, contentes ou constrangidos. Chama-se casamento. É como se alguém entrasse num jardim florido e colhesse o mais precioso espécime, o que mais o deslumbrara, à vista do seu cultivador que, às vezes, não contém as lágrimas... Acho-me na situação desse egoísta, apreciador dos tesouros alheios, amigo... Observo a dita mais perfeita no vosso lar abençoado e venho roubar-vo-la em parte, ou antes, desejo transplantar para o meu, deserto e entristecido, por falta de um arcanjo doméstico, uma centelha de alegria, de felicidade, de luz espiritualizante, que as há em abundância no vosso: quero enfim, meu amigo, permitais a aliança nupcial de Sonia com o meu Henrique... (...)”.

O texto transcrito é a expressão do pai do noivo para o pai da noiva, naqueles tempos em que os pais escolhiam o casamento para os filhos. Os dois sogros, amigos entre si, conversavam e um deles, viúvo, e pai do noivo, faz o pedido de noivado e casamento ao pai da moça

É ou não é uma beleza?? Fiquei a pensar quando fiquei noivo. Não teve nada disso, nenhuma formalidade. Não teve a tradição do "pedir a mão". Essas coisas se perderam pelo caminho... Lembre ai de sua história, como foi o seu noivado e, se quiser, deixa ai nos comentários como foi.

Será que hoje ainda temos isso? Não a questão das famílias se reunirem para o pedido de noivado, mas especialmente a questão dos casamentos escolhidos pelos familiares, por outros interesses que não o amor. O furto legal. Conhece algum desses recentemente?


Se ficou curioso, o melhor é o precinho dele no estantevirtual. Um livrão desse por menos de 5 pratas?!?!

Interessado?


sexta-feira, 15 de março de 2013

Que dia é hoje?

como assim você não sabe?
algo lhe traz embaraço?           
sua mente não lembrou?
o que tem 15 de março?
Rio de Janeiro, Guanabara, fusão?
isto traz-me compulsão!
olvidei? ou apenas disfarço?

muitas coisas aconteceram
algo que não é de agora
rogue para sua memória
a verdade está la fora
York, Detroit ou Vegas?
soa um pouco piegas?
eu quero meu passiflora!

este caso se encerra
foi este meu compromisso
enrolei e não disse nada
lhe deixei irritadiço
isto é coisa de minha cabeça
pesquise, talvez você conheça
e não se fala mais nisso!

sexta-feira, 8 de março de 2013

O sorriso de Exupéry

Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós. - Antoine de Saint-Exupéry

Nessa semana, durante alguns e-mails que troquei com a Lana, num deles ela mandou uma citação de Exupéry. Achei aquilo muito legal. Muitos só associam Exupéry ao "pequeno príncipe". Mas a biografia dele, e os outros livros por ele escrito além da obra magistral citada acima, são também dignos de atenção.

Com a citação dela, busquei na memória coisas que já tinha lido sobre Exupéry. Compartilho dois dentre muitos desses textos:

* * *

Foi então que apareceu a raposa.

“Bom dia.” – Disse a raposa.

“Bom dia.” – Respondeu o principezinho com delicadeza. Mas, ao voltar-se não viu ninguém.

“Estou aqui.” – Disse a voz – “Debaixo da macieira…”

“Quem és tu?” – Disse o principezinho. – “És bem bonita…”.

“Sou uma raposa.”

“Anda, vem brincar comigo.” – Propôs-lhe o principezinho. –“Estou tão triste…”

“Não posso brincar contigo.” – Disse a raposa. – “Ainda ninguém me cativou.”

“Ah! Perdão.” – Disse o principezinho.

Mas, depois de ter refletido, acrescentou: – “Que significa cativar”?

“Tu não deves ser daqui.” – Disse a raposa. – “Que procuras?”

“Procuro os homens.” – Disse o principezinho. – “Que significa cativar”?

“Os homens” – disse a raposa – “têm espingardas e caçam. É uma maçada! Também criam galinhas. É o único interesse que lhes acho. Andas à procura de galinhas?”

“Não.” – Disse o principezinho. – “Ando à procura de amigos. Que significa cativar”?

“É uma coisa de que toda a gente se esqueceu.” – Disse a raposa. – “Significa criar laços…”

“Criar laços?”

“Isso mesmo.” – Disse a raposa. – “Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas.

Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no mundo. Serei única no mundo para ti…”

-“Começo a compreender.” – Disse o principezinho. – “Existe uma flor... creio que ela me cativou.”

“É possível.” – Disse a raposa. – “Vê-se de tudo à superfície da Terra…”

* * *

Foi durante a guerra civil na Espanha. Antoine de Saint-Exupéry, o autor de O pequeno príncipe, foi lutar ao lado dos espanhóis que preservavam a democracia.

Certa feita, caiu nas mãos dos adversários. Foi preso e condenado à morte.

Na noite que precedia a sua execução, conta ele que foi despido de todos os seus haveres e jogado em uma cela miserável.

O guarda era muito jovem. Mas era um jovem que, por certo, já assassinara a muitos. Parecia não ter sentimentos. O semblante era frio.

Vigilante, ali estava e tinha ordens para atirar para matar, em caso de fuga.

Exupéry tentou uma conversa com o guarda, altas horas da madrugada. Afinal, eram suas últimas horas na face da Terra. De início, foi inútil. Contudo, quando o guarda se voltou para ele, ele sorriu.

Era um sorriso que misturava pavor e ansiedade. Mas um sorriso. Sorriu e perguntou de forma tímida:

Você é pai?

A resposta foi dada com um movimento de cabeça, afirmativo.

Eu também, falou o prisioneiro. Só que há uma enorme diferença entre nós dois. Amanhã, a esta hora eu terei sido assassinado. Você voltará para casa e irá abraçar seu filho.

Meus filhos não têm culpa da minha imprevidência. E, no entanto, não mais os abraçarei no corpo físico. Quando o dia amanhecer, eu morrerei.

Na hora em que você for abraçar o seu filho, fale-lhe de amor. Diga a ele: "Amo você. Você é a razão da minha vida." Você é guarda. Você está ganhando dinheiro para manter a sua família, não é?

O guarda continuava parado, imóvel. Parecia um cadáver que respirava.

O prisioneiro concluiu: Então, leve a mensagem que eu não poderei dar ao meu filho.

As lágrimas jorraram dos olhos. Ele notou que o guarda também chorava. Parecia ter despertado do seu torpor. Não disse uma única palavra.

Tomou da chave mestra e abriu o cadeado externo. Com uma outra chave abriu a lingueta. Fez correr o metal enferrujado, abriu a porta da cela, deu-lhe um sinal.

O condenado à morte saiu apressado, depois correu, saindo da fortaleza.

O jovem soldado lhe apontou a direção das montanhas para que ele fugisse, deu-lhe as costas e voltou para dentro.

O carcereiro deu-lhe a vida e, com certeza, foi condenado por ter permitido que um prisioneiro fugisse.

Antoine de Saint-Exupéry retornou à França e escreveu uma página inesquecível: Uma vida, duas vidas, um sorriso.

Quando perguntaram ao escritor como ele conseguiu escapar do cárcere que o levaria a morte, St. Exupéry respondeu em alto e bom tom:

Minha vida foi salva por um sorriso

* * *
Nesse dia internacional das mulheres, minha homenagem a todas vocês que sabem cativar uma amizade, e manter sempre um sorriso no rosto. Especialmente a você Lana, que inspirou o post trazendo Exupéry para nossas reflexões.

Que possamos exercitar um pouco mais esses dois verbos: cativar e sorrir. E que tal reler "O Pequeno Príncipe" ?

criador e criatura

PS: textos retirados do site Momento Espírita.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Canção de ninar

Diga ai qual a canção de ninar lhe veio a cabeça ao ler o título do post? Busque no fundo do baú, e tente lembrar a canção que você era ninado por seus pais, ou a que você usava para ninar seus filhos.

Ontem, ouvindo na rádio uma entrevista de Adriana Partimpim sobre o lançamento do seu terceiro disco para crianças  intitulado "tlês", conheci a canção de ninar Acalanto. Esse terceiro disco parece ser bem legal, a ideia dela era fazer um disco com canções de ninar, e óbvio que ela não vai fazer turnê do disco, segundo ela mesma falou, pois iria colocar a plateia para dormir.

Acalanto foi criada por Dorival Caymi, e era usada para ninar Nana Caymi. Fico a imaginar aquele vozerão ninando alguém. Já aprendi acalanto para incluir no repertório.

Para ninar Laura, eu tenho uma canção matadora. É só eu começar que ela embarca, algo assim:

***
"Para dormir
feche o olhinho
é só fechar
que o soninho vem;

pisca e fecha
que o soninho vem
para dormir
pisca e fecha meu amor

é só piscar
que o soninho já chegou."

***

É engraçado, que quando ela está numa agitação danada, olhão aberto, e não quer dormir por nada, eu mando a canção acima e ela diz: essa agora não! Canta boi, a do sapo, beijinho...

Agora ela deu para responder a canção:

"É só piscar
que o soninho já chegou" (e ela diz, não chegou)

E vou repetindo, ela respondendo: tá chegando, tá chegando...agora chegou! E eu fico cantando e rindo.

A Júlia, eu não ninava tanto, por ser a primeira, de vidro, sabe como é? Mas mesmo assim, ainda rolava um: 

"Julinha, Julinha amor de mamãe
Julinha, Julinha amor de papai
É Julinha meu amor
é Julinha minha flor"

***

Para mim, ninar a criança no colo, é a maior demonstração de segurança, de confiança, da parte da criança. Alguém se entregar no aconchego do seu colo, embalar no sono, e você colocar no berço, beijar a testa, e dizer dorme com Deus e com seu anjinho, é das melhores coisas da vida.

Em tempo, a canção de ninar que recordo de minha mãe cantando para mim é mãezinha do céu.