sexta-feira, 26 de abril de 2013

Por quem os sinos dobram

Seja num livro de Hemingway.
Seja na canção de Raul Seixas.
Seja no cinema, na literatura, na música.
Provavelmente, todos eles tem uma origem em comum.



Existe uma razão para eles tocarem...

Seja para anunciar a morte, ou a vida.
Para chamar os fieis para a missa.
Para te despertar pela manhã.
Para avisar que está na hora do almoço.

Seja para o que for que eles cantem...
De hoje em diante...
Você não será o mesmo após ouvir um sino badalar.

* * *

Uma amiga de nossa família, Iêda Mariléa, lançou recentemente um livro intitulado "Perfil de Mulher", contendo poemas de sua autoria.

Dentre tantos, um é especialmente para você:

Por quem os sinos dobram

Eles dobram por ti...
Pedem a Deus pela humanidade
Por todas as injustiças sociais ainda praticadas
Pela nossa má vontade em progredir
Não aparando as arestas
Não exercitando o bem
Eles dobram por ti, irmão
Pedindo socorro
Num lamento melodioso
Pela Terra ultrajada
Por tanta depredação
Olhai as aves do céu
Elas voam despreocupadas
Pois sabem que o Pai tudo provê
E nós seres humanos falíveis
Precisamos encontrar nosso eixo
Para então gravitarmos para Deus
Campanário, campanário amigo...
Dobrem...
Dobrem...
Até acordar os homens
Para a realidade do amor.

* * *

É impossível ficar indiferente ao dobrar do sino.

Felizes aqueles que em suas agitações diárias, podem ainda ouvir, do alto da torre de uma igreja,  o chamado simbólico do sino clamando...desperta!!

 Crédito da imagem 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Escova, dons e símbolos

Puto gordo de uma figa
Cabra de muita sorte
De onde menos se esperava
Encontrou sua consorte
Tenho medo dessa loura
Na porrada ela é forte

Deixa ela só saber
Crédito
Desse papo de simbólico
Casamento é coisa séria
Um processo anabólico
Cuidado com o que fala
Senão vira catabólico

Desejo a felicidade
Proporcional a sua pança
Se emagrecer não se preocupe
Não se mede em balança
Felicidade nunca acaba
Tenha sempre esperança

Daqui do mato eu envio
Meu salve ao casal
O abraço chega em junho
Num outro bat-local
Com as escovas não esqueçam
De comprar creme dental

São Caetano é distante
Fica em outra extremidade
Não podia ser mais perto?
Quem sabe outra cidade?
Uma coisa ainda não tenho:
O dom da ubiquidade


* * *

Homenagem ao casamento "simbólico" de Claudio Dundes e Cris Soldeira, que juntam as escovas de dentes amanhã, 20.04.13.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Cartas ao meu pai

Saudades daquela época em que as pessoas se correspondiam por cartas.

E quantas vezes essas cartas não viraram excelentes livros! Conhece algum?

Inspirada em um livro que lhe indiquei (pesado, denso, de pancar a cabeça): "Precisamos falar sobre Kevin", onde todo o enredo é narrado através de cartas, Mariana, que tem a felicidade de me ter como cunhado, completamente inspirada, escreveu a carta abaixo para seu pai.

* * *

Niterói, 19/12/2012

Olá,

Hoje senti uma necessidade de te escrever, talvez assim eu acalme um pouco esses sentimentos que se amontam e se embolam em meu coração. Eu tenho estado um pouco cansada das meias verdades, das meias palavras. Acho estranho dizer isso, mas é um fato, estamos cada vez mais ligados ao mundo e a cada instante as pessoas se tornam mais sozinhas, mais distantes.

Eu confesso que me tornei uma dessas pessoas extremamente conectadas a tudo, mas ainda tenho tentado preservar a presença, o contato físico, a boa conversa numa mesa, os encontros. Eu insisto, porque vale manter vivo o cheiro, a risada sentida. Não, eu não quero receber a representação de um sorriso. Eu não quero ter relações virtuais. Isso não é normal.

Estava aqui pensando no que acharia disso tudo se estivesse aqui. Será que era isso que gostaria que estivéssemos vivendo agora? Talvez me respondesse apenas dizendo que estamos ausentes do mundo e isso me faria pensar muito.

Eu estava precisando conversar, por isso resolvi escrever. Sempre me sinto melhor quando escrevo algo, o sentimento em papel não é a mesma coisa, gera variadas interpretações, mas por saber que me conhece tão bem, acho que não terá problemas em saber o que eu sinto, na verdade, é inegável que me conhece perfeitamente.

Eu vejo na televisão a todo instante, coisas horríveis acontecendo, adultos que violentam outros adultos, outras crianças, outras famílias e crianças que matam. Isso já não choca, temos especialistas que julgam, condenam, falam demasiadamente sobre o acontecido, mas será que o problema em questão envolve apenas um contexto familiar, uma sociedade. Acho isso tudo repleto de meias verdades e tenho certeza que se pudesse me dizer algo, explicaria claramente onde erramos, mesmo que a resposta seja evidente. Somos todos culpados.

É, talvez seja isso. Talvez seja necessário reforçar o lado bom e positivo da vida. Talvez seja importante reforçar os laços de amor. Vigiar os pensamentos. Mas será que a mídia se importa com isso? Será que falar do mal gera mais Ibope do que falar do bem? Eu não sei, mas não querer saber das coisas nos torna extremamente vulneráveis.

Vou repensar um pouco sobre o papel que posso ter nisso tudo. Sei que me ajudará a encontrar o caminho correto para que mesmo que minimamente eu possa fazer diferente. E sei que vai cobrar se por acaso eu estiver apenas de espectadora. Não estamos aqui pra isso, e isso eu sei, Deus.

Mari

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sobre joias e tesouros

"Suas meninas são um tesouro!" (Elis)

E você, possui algum tesouro? Uma joia valiosa?

Possuir não seria o melhor verbo, pois com relação a tesouros e joias, não os possuímos...somos apenas usufrutuários. 

Ele passa de mão em mão, entre gerações...e, se hoje, temos isso nas mãos, é para usufruirmos...momentaneamente.

Sem dúvida, filhos são o maior tesouro que temos...são gemas preciosas. Mas também não os possuímos, somos usufrutuários.

Já dizia Gibran Khalil Gibran, no seu espetacular "O Profeta":

"Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força,
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável."

* * *

E já que estamos com ventos orientais...uma ótima narrativa intitulada "Joias devolvidas".

Narra antiga lenda árabe, que um rabi, religioso dedicado, vivia muito feliz com sua família. Esposa admirável e dois filhos queridos.

Certa vez, por imperativos da religião, o rabi empreendeu longa viagem ausentando-se do lar por vários dias.

No período em que estava ausente, um grave acidente provocou a morte dos dois filhos amados.

A mãezinha sentiu o coração dilacerado de dor. No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com bravura.

Todavia, uma preocupação lhe vinha à mente: como dar ao esposo a triste notícia?

Sabendo-o portador de insuficiência cardíaca, temia que não suportasse tamanha comoção.

Lembrou-se de fazer uma prece. Rogou a Deus auxílio para resolver a difícil questão.

Alguns dias depois, num final de tarde, o rabi retornou ao lar.

Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos...

Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho, e logo depois ela lhe falaria dos moços.

Alguns minutos depois estavam ambos sentados à mesa. Ela lhe perguntou sobre a viagem, e logo ele perguntou novamente pelos filhos.

A esposa, numa atitude um tanto embaraçada, respondeu ao marido: deixe os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave.

O marido, já um pouco preocupado perguntou: o que aconteceu? Notei você abatida! Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus.

- Enquanto você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas joias de valor incalculável, para que as guardasse. São joias muito preciosas! Jamais vi algo tão belo!

- O problema é esse! Ele vem buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz?

- Ora mulher! Não estou entendendo o seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!... Por que isso agora?

- É que nunca havia visto joias assim! São maravilhosas!

- Podem até ser, mas não lhe pertencem! Terá que devolvê-las.

- Mas eu não consigo aceitar a ideia de perdê-las!

E o rabi respondeu com firmeza: ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!

- Vamos devolvê-las, eu a ajudarei. Faremos isso juntos, hoje mesmo.

- Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será devolvido.

Na verdade isso já foi feito. As joias preciosas eram nossos filhos.

- Deus os confiou à nossa guarda, e durante a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram.

O rabi compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa, e juntos derramaram grossas lágrimas. Sem revolta nem desespero.

* * *

Os filhos são joias preciosas que o Criador nos confia a fim de que as ajudemos a burilar-se.

Não percamos a oportunidade de enfeitá-las de virtudes. Assim, quando tivermos que devolvê-las a Deus, que possam estar ainda mais belas e mais valiosas.

(Fonte: livro "Quem tem medo da morte? - Richard Simonetti,  cap. Joias devolvidas)


* * *

Os filhos, os preparamos para a vida, para viver em sociedade.

E na condição de seres gregários, encontramos na família a base da sociedade. E se hoje, a sociedade não vai bem, é porque a família não está bem das pernas.

Sua família, seu maior tesouro. Cuide.

PS: Seria hoje, mas foi adiado para dia 10...a família Valada recebe mais uma pedra preciosa...seja bem vinda Juju. Ivana e Fabio, usem o cinzel com sabedoria, lapidando essa joia que recebem.