sexta-feira, 12 de abril de 2013

Cartas ao meu pai

Saudades daquela época em que as pessoas se correspondiam por cartas.

E quantas vezes essas cartas não viraram excelentes livros! Conhece algum?

Inspirada em um livro que lhe indiquei (pesado, denso, de pancar a cabeça): "Precisamos falar sobre Kevin", onde todo o enredo é narrado através de cartas, Mariana, que tem a felicidade de me ter como cunhado, completamente inspirada, escreveu a carta abaixo para seu pai.

* * *

Niterói, 19/12/2012

Olá,

Hoje senti uma necessidade de te escrever, talvez assim eu acalme um pouco esses sentimentos que se amontam e se embolam em meu coração. Eu tenho estado um pouco cansada das meias verdades, das meias palavras. Acho estranho dizer isso, mas é um fato, estamos cada vez mais ligados ao mundo e a cada instante as pessoas se tornam mais sozinhas, mais distantes.

Eu confesso que me tornei uma dessas pessoas extremamente conectadas a tudo, mas ainda tenho tentado preservar a presença, o contato físico, a boa conversa numa mesa, os encontros. Eu insisto, porque vale manter vivo o cheiro, a risada sentida. Não, eu não quero receber a representação de um sorriso. Eu não quero ter relações virtuais. Isso não é normal.

Estava aqui pensando no que acharia disso tudo se estivesse aqui. Será que era isso que gostaria que estivéssemos vivendo agora? Talvez me respondesse apenas dizendo que estamos ausentes do mundo e isso me faria pensar muito.

Eu estava precisando conversar, por isso resolvi escrever. Sempre me sinto melhor quando escrevo algo, o sentimento em papel não é a mesma coisa, gera variadas interpretações, mas por saber que me conhece tão bem, acho que não terá problemas em saber o que eu sinto, na verdade, é inegável que me conhece perfeitamente.

Eu vejo na televisão a todo instante, coisas horríveis acontecendo, adultos que violentam outros adultos, outras crianças, outras famílias e crianças que matam. Isso já não choca, temos especialistas que julgam, condenam, falam demasiadamente sobre o acontecido, mas será que o problema em questão envolve apenas um contexto familiar, uma sociedade. Acho isso tudo repleto de meias verdades e tenho certeza que se pudesse me dizer algo, explicaria claramente onde erramos, mesmo que a resposta seja evidente. Somos todos culpados.

É, talvez seja isso. Talvez seja necessário reforçar o lado bom e positivo da vida. Talvez seja importante reforçar os laços de amor. Vigiar os pensamentos. Mas será que a mídia se importa com isso? Será que falar do mal gera mais Ibope do que falar do bem? Eu não sei, mas não querer saber das coisas nos torna extremamente vulneráveis.

Vou repensar um pouco sobre o papel que posso ter nisso tudo. Sei que me ajudará a encontrar o caminho correto para que mesmo que minimamente eu possa fazer diferente. E sei que vai cobrar se por acaso eu estiver apenas de espectadora. Não estamos aqui pra isso, e isso eu sei, Deus.

Mari

Um comentário:

  1. O Empório poderá virar vários livros né?!
    De receitas, de imagens, de dicas, de artes, de reflexões, de cartas...
    Concordo com a Mari e ao contrário dela, já não preservo mais (tanto assim) a presença. Hora de mudar isso! Segunda é um bom dia pra fazer o novo ou praticar o velho de forma nova.

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Fiado só amanhã.
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