segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Laço ou nó

"Escrever mensagens é a essência da minha arte" (eL Seed)


Duas FITAS que se entrelaçam. Podem virar laço, podem virar nó. O que distingue um do outro?
Sim, a força ou a suavidade do aperto.

Duas VIDAS que se entrelaçam... podem virar laço, podem virar nó.

E quando essas vidas que se entrelaçam num nó, nunca tenham se cruzado pessoalmente?


* * *


Certamente você conhece alguns casos... discípulos que nunca conheceram o mestre, pode ser a imagem que lhe vem na mente.

Mas o motivo que me trouxe a esse texto hoje foi o elemento surpresa. O conhecimento de um nó totalmente diferente.

E o mais surpreendente, tudo aqui no quintal de casa, no Rio de Janeiro.

Costumo assistir as palestras do TED. São curtas, inovadoras, e interessantes. Ali se conhece cultura de toda parte do mundo, e de pessoas que estão fazendo a sua parte.

Por exemplo, el Seed, um artista da Tunísia, que faz caligrafite. Arte com a escrita árabe, deixando uma mensagem de paz e esperança por onde pinta. Assistam a palestra e vejam que interessante, apenas 5 minutos (configurem a legenda (transcript) para português).



Foi através dele, que conheci o trabalho de uma carioca, Gabriela Torres. E que beleza de trabalho.

O mais surpreendente foi descobrir que el Seed esteve no RJ, deixou sua arte no Vidigal, inspirado no trabalho da Gabriela.

E os dois nunca se encontraram.


* * *


Podemos ser nó.

Nossas atitudes podem inspirar pessoas em qualquer parte do mundo.

Façamos nossa parte. Façamos a diferença.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A dádiva circulante

Lewis Hide publicou em 1983 um livro intitulado The Gift [O dom]. Ali ele explica a expressão "Índio Doador".
 
Um cacique americano recebe um inglês em sua tenda; num gesto de amizade, fuma um cachimbo junto com o convidado e depois lhe oferece o cachimbo como presente. O cachimbo, um pequeno objeto valioso, é - para o cacique - uma oferta simbólica da paz que circula constantemente de tribo em tribo, nunca "pertencendo" realmente a ninguém. O inglês não entende isso, fica feliz da vida com sua nova posse e, assim, não entende nada quando, poucos meses depois, outro chefe tribal vai à casa dele e, após fumarem juntos, põe-se a olhar o anfitrião aguardando que ele lhe dê o cachimbo de presente. O inglês não consegue compreender como alguém pode ser tão grosso a ponto de querer ganhar algo que pertence a ele.

Hide conclui:
"O contrário do 'índio doador' seria algo como o 'branco guardador' (...) isto é, uma pessoa cujo instinto é retirar a propriedade de circulação (...) O índio doador (ou o original, pelo menos) entendia uma característica central do presente: o que ganhamos não deve ficar guardado e sim ser doado outra vez (...) O único elemento essencial é o seguinte:

A dádiva deve sempre circular."


* * *


Temos tantas coisas a por para circular... Não apenas materiais.

Por quê acumulamos tantas coisas? Ficamos a esperar um uso útil no futuro, e esse dia nunca que chega.

Enquanto isso, a dádiva continua enjaulada.

* * *

Faça algo para ela circular nessa semana.

Seja algo que está no armário pegando poeira: roupas, livros, qualquer coisa que possa ser útil para alguém.

Seja uma mensagem bonita que receba e ela te traga a lembrança de uma pessoa. Faça a mensagem chegar nela.

Acredite, isso pode fazer a diferença. Não é por outra razão que se chama dádiva.

Sejamos mais índio e menos inglês.


Fonte: A arte de Pedir, Amanda Palmer




segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Quando foi que esquecemos?

Lembra-se do Memoriol? Não? Aquele pra memória! Será que você nunca tomou, ou tem esquecido de usá-lo?



E você se lembra que já falamos do esquecimento por aqui? Não? Hummm, confere lá, tem um exercício muito legal que pode ser feito nessa semana.

Hoje propomos um novo exercício de uso da memória.

Antes de prosseguirmos, páre um pouco e mergulhe no seu baú. Resgate uma lição inesquecível que tenha recebido de seus pais.

* * *

Na semana passada recebi um e-mail tratando exatamente desse assunto, mais especificamente sobre as lições que recebemos na infância. Dizia:

"Em entrevista, uma jovem contou que tinha uns sete anos quando foi com sua mãe ao mercadinho perto de casa. Enquanto a mãe fazia as compras, ela, menina, escondeu um doce de leite no bolso.

Na saída, sentindo-se a garota mais esperta do mundo, mostrou o doce e disse: Olha, peguei sem pagar.

O que ela recebeu de retorno foi um olhar severo. E, logo, a mãe a tomou pela mão, retornou ao mercado, fê-la devolver o que pegara e pedir desculpas.

A garota chorou demais. Sentiu-se morrer de vergonha. Entretanto, arrematou, concluindo: Isso me ensinou o valor da honestidade."

* * *

É possível que vários de nós tenhamos tido experiência semelhante. Por isso, indagamos: Quando foi que deletamos a mensagem materna? O que nos fez esquecer o ensino da infância?

A lição é fixada, e quando reincidimos no erro, nossa sentinela de plantão, a consciência,  alarma automaticamente...você já aprendeu sobre isso. Por quê insiste no erro?

A lição resgatada do seu baú no exercício inicial teve alguma semelhança com o caso citado? Você guarda memórias de alguma situação parecida com a do e-mail recebido?

A família é a sociedade em miniatura, tudo começa por ali.

E se hoje as coisas estão como estão, a família tem falhado no seu papel. Lições como a citada estão sendo esquecidas, negligenciadas, ou sequer ensinadas.

Termino com a célebre frase de um mundo sustentável: "Todos se preocupam em deixar um planeta melhor para seus filhos. Quando é que pensaremos em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Diploma de Pai

E você pode estar pensando: era só o que faltava! Alguém está oferecendo um curso que ensina a ser pai.

Na verdade, o curso existe sim, e é ministrado pela Universidade da Vida.

De longa duração, a formatura pode demorar a se concretizar, pois os pais são diplomados pelos filhos. E para que isso ocorra, existem dois pré-requisitos que precisam ser atendidos...

* * *

Diplomei meu pai ano passado, por ocasião de seu aniversário de 65 anos. Seu curso na Faculdade de Pai durou quase 40 anos.

Estávamos reunidos comemorando seu aniversário, quando chegou a hora de prestarmos homenagens ao aniversariante.

Cada pessoa presente lhe endereçava palavras sinceras e emocionadas, arrancando lágrimas de todos os presentes. A desidratação era generalizada.

Na minha vez de falar, lembrei de uma história que tinha lido num livro de Hermínio Miranda, e que me tocou profundamente quando li, e fiz uma adaptação da história "Diploma de Pai".

Disse-lhe:

Diante te tanta coisa bonita e verdadeira que já foram aqui ditas, resta-me dizer essas palavras não apenas para você, mas para todos que aqui também estão na posição de pais.

Pai, infelizmente ainda não posso te chamar assim...

Duas coisas são necessárias para a pessoa ser diplomada como Pai:

1) Você precisa ouvir de seu filho que ele te ama.
2) Ele precisa te dizer que você é o melhor amigo dele.

Já perdi as contas de quantas vezes disse que te amava.

Mas não me lembro de lhe ter dito que você é o meu melhor amigo. Acho que nunca lhe disse isso, você se lembra?

Então hoje, após quase 40 anos nessa função mágica que é a paternidade, eu lhe diplomo como um grande Pai... (olhei nos seus olhos, generosidade e amor brotavam dali, acolhendo cada palavra. Lágrimas desciam de seu olhos e eu solucei, a voz embargou).

Pois, além de muito te amar, você é o meu melhor amigo!

* * *

Deixo aqui esse registro, pois o pai que sou hoje é um reflexo seu. (Sim, me formei mais rápido que você! Também já sou pai diplomado)

Receba meu presente pelo dia dos pais na forma de presença.

E vamos em frente, juntos, rumo a pós-graduação em paternidade.