segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O privilégio de um Pável

Todos temos um Pável em nossas vidas.

Sim, aquele professor inesquecível. Quando você pensa neste professor, quem lhe vem à mente?

E se esse não foi o nome lembrado acima, certamente você se recorda do nome do professor que lhe alfabetizou, não?

* * *

Este é um assunto que muitos têm dificuldades em conversar. Mas por quê? Se é a única certeza que temos na vida.

Se é difícil conversar entre adultos, imagina para dar a notícia da morte de um ente querido para uma criança?

Eis que entra o educador inesquecível, o Pável.

* * *


A sala ainda estava com as carteiras vazias. Alunos em algazarra aguardavam a chegada do professor de Desenho. A metodologia adotada para aquele tipo de aula era a razão principal do sucesso das atividades relacionadas à matéria, sempre dentro de uma abordagem diferente, que surpreendia o aluno pela novidade do tema e pela criatividade do mestre.

Desde o início da carreira no magistério, ele buscou na originalidade a forma mais adequada de ensinar. As aulas que ministrava eram disputadas não só pelos alunos, mas também por funcionários e diretores, que sempre encontravam alguns minutos de folga para sentarem, no fundo da sala, a fim de aprender um tanto mais com o agora já experiente professor.


Naquele dia, não só o amigo da sabedoria encontrava-se aflito, mas também todos os que se preocupavam com a saúde de uma colega, igualmente professora, internada dias antes com graves problemas orgânicos. No hospital, os médicos aplicavam todos os recursos disponíveis, mas as condições da doente já estavam precárias. A jovem mulher, mãe de duas crianças, perdia rapidamente a resistência, deixando fluir os últimos liames de vida.

Assim que chegou à sala, o amigo dos alunos não conseguiu ocultar a preocupação que sentia pelos familiares da colega de profissão. Debateu com os presentes os conceitos de saúde e doença, bem-estar e desesperança, e encerrou as atividades para se dedicar mais intimamente aos parentes da professora enferma.

Na madrugada seguinte, a mulher sentiu chegar o instante do rompimento dos laços sutis que ainda permitiam que a vida vibrasse naquele corpo físico. A partida aconteceu serenamente, em contraste com as difíceis horas de dor ocorridas pouco antes.

Logo pela manhã, as primeiras impressões da saudade misturavam-se às incertezas quanto ao lar prematuramente desfalcado. Parentes e amigos aguardavam na casa a chegada do corpo e o início do velório. Na cozinha, os dois filhinhos, João Carlos com cinco anos, e Ana com apenas um, saboreavam o café da manhã, alheios ainda ao acontecido.

A angústia da informação aos filhos sobre a morte da mãe tomava conta dos presentes. Quem daria a notícia? As crianças seriam poupadas da cena comovente, ou seriam levadas para outro lugar? O professor, atento, lembrou que o afastamento dos pequenos poderia ser motivo de revolta posterior, quando descobrissem que foram impedidos de um último contato com a presença física da mãe.

Convidado pela família a dar a notícia a João Carlos, o mestre aceitou a incumbência e, minutos depois, chamou o inocente menino a um quarto, para uma conversa.


— João Carlos, você gosta de sua mãe?
— Muito.
— Acha que ela cuida carinhosamente de vocês?
— Ela é muito legal.

— Você já ouviu falar em anjo da guarda?
— Já. Eu acho que tenho um.
— O que é que um anjo da guarda faz?
— Cuida das crianças desprotegidas. Acho que cuida dos adultos também.

— Você e sua irmãzinha são desprotegidos?
— É claro que não. Até vovó e a tia cuidam da gente...
— O que é mesmo um anjo dá guarda?
— É quem cuida das crianças tristes, dos bebês abandonados, protege os meninos arteiros e... ora, um anjo da guarda faz muita coisa necessária.

— Você vê seu anjo da guarda?
— Não. Ele é que nem Jesus. Os nossos olhos, do jeito que são, não conseguem vê-lo.
— Eu tenho uma informação. É uma notícia para você. O mundo, como sabe, está cheio de criaturas tristes, cheio de crianças levadas, repleto de meninos abandonados. Por isso, lá no céu, estão precisando de mais anjos da guarda, para cuidar de tanto serviço.
— Estão precisando de mais anjos da guarda, lá no céu?
— Estão.

— E como é que fazem para conseguir?
— Pedem ajuda às pessoas grandes, aqui na Terra.
— É por isso que muita gente morre? Para ser anjo?
— Isto mesmo. Agora, preste atenção. Você sabe quem é o anjo mais importante que vai nascer?
— Ele saiu aqui da Terra? Saiu hoje?
— Saiu.

— Foi alguém que morreu?
— Precisamos tomar cuidado com a palavra morreu. A vida existe sempre. Só o corpo é que morre.
— Este anjo que vai nascer, hoje, antes do corpo morrer, ele ficou no hospital?
— Ficou. Estava se preparando.

— Tio, mulher pode ser anjo da guarda?
— Pode, meu querido.
— Onde é que está a mamãe?
— Você mesmo quer pensar e responder?
— Ela foi ser anjo da guarda?

— Onde é que está o corpo dela?
— O corpo ainda está no hospital.
— E ela? Onde é que está?
— A caminho do céu... .

— Acho que vou chorar...
— Pois chore. Pode chorar. Chorar é coisa de homem.
— As lágrimas suavemente gotejaram. O professor insinuou:
— Chore com amor, chore com carinho. Seja delicado para mostrar sua saudade, chorando com ternura.

Os dois conversaram ainda por alguns minutos, sobre como alguns adultos, quando em pânico pela perda de algum ser querido, acabam por interferir na harmonia mental dos recém-chegados ao plano espiritual. João Carlos tinha um raciocínio muito rápido e lógico, parecendo compreender, por intuição, o importante papel que teria de cumprir, durante aquele difícil dia, ao conter a aflição dos mais velhos.

Antes de sair do quarto, ele abraçou docemente o amigo de sua mãe e disse:— Vou chorar mais um pouquinho. Só um pouquinho...

Durante o velório, pediu com delicadeza que as pessoas se controlassem, a fim de que a mamãe pudesse chegar em paz lá no céu. O professor, sofrido mas com o sentimento de compaixão pelo auxílio prestado ao bem-estar de todos, pensou em guardar mais uma lição, que contaria depois para os aprendizes: saudade com dor não pode. Só pode saudade com amor! (A história narrada é real, bem como o sábio professor que a vivenciou. Ela se passou em Juiz de Fora - MG, com o mestre Edson Pável Bastos).

* * *

Parabéns ao novo anjo da guarda que surge na abóbada celeste.

Nossos agradecimentos pelos anos de convivência, por tantos exemplos e ensinamentos deixados.

Goze agora do equilíbrio e da harmonia de consciência, típicos daqueles que souberam cumprir retamente com os seus deveres.

(Fonte: Vozes do Espírito - Carlos Augusto Abranches)

6 comentários:

  1. Convivi pouco, mas conheci muitas histórias sobre dona Maria Luiza. Que os Espíritos Amigos a amparem no retorno à Pátria Espiritual, de onde continuará trabalhando em benefício dos que aqui ficaram. Força para a família, que agora precisa lidar com a saudade.

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  2. Ric, acabei de ler a sua postagem de hoje e estou sem folegp ,tamanha emoção!!! Quanta aprendizagem!!! Um ,ensinando ao outro !!! A vida é verdadeiramente uma escola !!!! Pelo que pude ouvir do seu tio Betinho , enquanto almoçávamos , vcs conseguiram passar para as filhas , que a bisa foi ser anjo da guarda lá no céu, pois ele viu Julinha se despedindo dela com lágrimas silenciosas ,mostrando sua saudade com muita ternura!!!! Maravilha!!! Senti uma paz indescritivel no coração!! Agradecimentos eternos ,ao mais novo anjo da guarda , pelo grande legado deixado pra todos!!!

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  3. Maria Luiza, Maria Guerreira , céu em festa com a sua chegada!!!

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  4. Comovente e importante lição. Pra ficar muito tempo martelando na minha cabeça. Obrigado. Claudio Dundes

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  5. Linda a mensagem! Como disse Laura (4 anos): "A bisa foi para o céu." E Júlia (8 anos) escreveu: " a maioria das pessoas acreditam que nós morremos, isso é verdade, mas nós só morremos aqui na Terra. O espírito continua vivo e nos observando a cada momento que passa na nossa vida, nos orientando e aconselhando nas dúvidas, nos abençoando e protegendo. Nós sabemos que você (bisa Maria) nos ama muito"

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  6. E é tão bom sentir saudade com amor, lembrar dos momentos de presença física constante, sentir o abraço... ainda bem que vocês são grandes mestres para "Glad" e "Miss" e que elas entendem que só passamos nessa vida e que um dia, também seremos "anjos" de outros e que tornaremos a participar da vida, um do outro, como se nada tivesse alterado no ciclo "dessa vida".

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Fiado só amanhã.
Obrigado e volte sempre.