segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Razão e felicidade

Se o que lhe veio a mente ao ler o título da postagem foi alguma lembrança do livro de Jane Austen, Razão e Sensibilidade, temos algo em comum: compulsão por livros.

Mas hoje Jane Austen que me perdoe, vou substituir sensibilidade por felicidade.

Você prefere ter razão ou ser feliz?

Já ouviu essa pergunta alguma vez?

Já parou para pensar no número de escolhas que fazemos durante um dia? São muitas. Felizes umas, tristes outras, importante todas.

Mal abrimos os olhos e já estamos fazendo escolhas: levanto ou faço preguiça? Desligo o alarme ou uso o soneca? E seguimos fazendo escolhas, muitas vezes inconscientemente, até o final do dia.

Mas e quando a escolha nos remete a essas duas opções: ter razão ou ser feliz? 



Geralmente precisamos decidir rápido, e muitas vezes não temos tempo para pensar. 

Semana passada, fui infeliz numa dessas escolhas de bate-pronto. Preferi razão a felicidade. Refletindo depois sobre o ocorrido, lembrei de duas histórias sobre o tema, que reproduzo abaixo:

* * *

Texto 1


Por que nossas ideias precisam sempre prevalecer?

Será que precisamos vencer todas as discussões que travamos?

Dale Carnegie, escritor e orador americano, autor do best seller: Como fazer amigos e influenciar pessoas, narra uma experiência particular muito rica.

Conta ele:

Certa noite, estava num banquete dado em honra a um homem muito importante.

Durante esse banquete, um outro homem que estava sentado ao meu lado contou um caso que girava em torno da seguinte afirmativa: "Há uma Divindade que protege nossos objetivos, traçando-os como os desejamos."

Ele mencionou que tal frase era da Bíblia.

Enganara-se. Eu sabia disso. Sabia, e com toda a certeza. Não podia haver a menor dúvida a respeito.

E assim, para conseguir um ar de importância e demonstrar minha superioridade, tornei-me um importuno e intrometido encarregando-me de corrigi-lo.

Acionou suas baterias. "Quê? De Shakespeare? Impossível! Absurdo! Essa frase era da Bíblia." E ele conhecia.

O homem que narrava o caso estava sentado á minha direita, e o senhor Frank Gammond, meu velho amigo, à minha esquerda.

O Sr. Gammond havia dedicado anos ao estudo de Shakespeare. Assim, o narrador e eu concordamos em submeter a questão ao Sr. Gammond.

Este escutou, cutucou-me por baixo da mesa e disse: "Dale, você está errado. O cavalheiro tem razão, a frase é da Bíblia."

De volta para casa, disse ao Sr. Gammond: "Frank, eu sei que a frase é de Shakespeare."

"Sim, naturalmente", respondeu. "Hamlet, ato V, cena 2. Mas nós éramos convidados numa ocasião festiva, meu caro Dale.

Por que provar a um homem que ele estava errado? Isso iria fazer com que ele gostasse de você? Por que não evitar que ele ficasse envergonhado?

Não pediu sua opinião. Não a queria. Por que discutir com ele? Evite sempre um ângulo agudo."

O homem que me disse isso ensinou-me uma lição inesquecível. Eu não só tinha embaraçado aquele contador de histórias, como também o meu amigo.

Teria sido muito melhor se eu não tivesse sido argumentativo.


Texto 2


Por que queremos sempre ser os donos da verdade?

Oito da noite numa avenida movimentada.

O casal já está atrasado para jantar na casa de alguns amigos.

O endereço é novo, assim como o caminho, que ela conferiu no mapa antes de sair.

Ele dirige o carro. Ela o orienta e pede para que vire na próxima rua à esquerda.

Ele tem certeza de que é à direita. Discutem.

Percebendo que, além de atrasados, poderão ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida.

Ele vira à direita e percebe que estava errado.

Ainda com dificuldade, ele admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno.

Ela sorri e diz que não há problema algum em chegar alguns minutos mais tarde.

Mas ele ainda quer saber: Se você tinha tanta certeza de que eu estava tomando o caminho errado, deveria  insistir um pouco mais.

E ela diz: Entre ter razão e ser feliz, prefiro  ser feliz.

Estávamos à beira de uma briga, se eu insistisse mais teríamos estragado a noite.

Certamente uma sábia decisão.

Muitas vezes nós perdemos oportunidades de viver momentos felizes só porque queremos provar que estamos com a razão. Ou, pelo menos, pensamos que estamos.

De maneira alguma defendemos a omissão ou o não uso da razão, mas tão somente o uso da razão com sensibilidade.

Quantas amizades já destruímos por causa de uma obstinação em defender um ponto de vista?

Quanta energia já gastamos na defesa de uma ideia, desejando que os outros a aceitem a qualquer custo?

Quanto tempo perdido na elaboração de argumentos para convencer alguém de que temos razão em algum ponto?

Será que vale a pena essa maneira de ser?

Será que vale a pena perder a paz na tentativa de provar que estamos certos?

Não seria mais sábio de nossa parte optar pela harmonia, em vez de brigar por causa de pequenas questões irrelevantes?

É evidente que há momentos em que devemos defender nossa posição, e seria bom que o fizéssemos sem nos perturbar, sem sair do sério.

Mas o que geralmente acontece é que levamos as discussões, que deveriam ficar no campo das ideias, para o campo pessoal. E nos irritamos.

É importante considerar que para divergir não precisa dissentir.

Podemos discordar de alguém e ainda assim preservar a amizade e o respeito por esse alguém.

Pense nisso quando se apresentar uma situação em que você tenha que fazer essa opção e se questione, antes de agir:

Será que vale a pena perder a calma para defender esse ponto de vista?

Será que o momento certo para expor minha opinião é agora?

Será este o momento de impor minhas razões?

Talvez se prestássemos mais atenção em nossas palavras e nos porquês de nossas discussões frequentes, perceberíamos que, na maioria das vezes, poderíamos optar por ser feliz e ter paz, em vez de ter razão.

Considere que as energias gastas em discussões infrutíferas podem lhe fazer falta na manutenção da saúde física e mental, e busque usá-las de maneira útil e inteligente.

Afinal, todos os seus esforços devem ser usados em prol da harmonia comum, para que haja paz ao seu redor.

E lembre-se, sempre, antes de qualquer desgaste, de questionar: Quero ter razão, ou ser feliz?

* * *

Minha filha, você, com apenas 8 anos, ensinou uma grande lição ao papai nessa semana: 

"É melhor ser feliz! Sempre!"

Muito obrigado!


Fonte:




8 comentários:

  1. Ricardo, minha esposa ao ver que estaremos brigando por motivos bobos sempre usa essa frase..."A ignorância é uma dádiva" ignorar minhas manias, meus defeitos, minha teimosia fazem com que sejamos um casal muito feliz a 32 anos. Ainda estou em fase de aprendizado com ela, mas por vezes uso essa frase no trabalho e no convívio com alguns amigos...risos

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  2. Vixi.
    Perfeito!
    Era, exatamente, o que eu precisava ouvir...
    show tua filhinha...
    Puxou ao pai!
    Sabedoria nas palavras...

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  3. Tenho procurado exercitar ....é realmente melhor ser feliz do que ter razão . Chegar aos 65 anos , me trouxe essa conscientização !!!!Melhor seria, ter aprendido antes ...mas , nunca é tarde!!
    Valeu Ric , muito bom que já esteja atento !!!

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  4. Precisamos exercitar muito. Na maioria das vezes queremos estar com a rezão.
    Muito boa a reflexão para começarmos a semana.
    Obrigada
    Wilma Bragança

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  5. queria ter a serenidade necessária para silenciar e preservar a paz nesses momentos em que uma palavrinha mais amarga azeda o instante...

    uma boa reflexão...

    tava com saudade de passar aqui no Empório!
    tanta novidade boa!

    Elis


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  6. Que a gente esteja aberto e pronto para ser feliz sempre!

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  7. Eu sou a mulher do carro... sem a ponderação, preferindo ter razão.
    Muito boa a oportunidade de refletir sobre isso. Obrigada, Ricardo!

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  8. Mais um texto delicioso de se ler!! Cheio de razão, mas com muita sensibilidade!!! Beijos com saudade, primo!

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Fiado só amanhã.
Obrigado e volte sempre.