segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A dádiva circulante

Lewis Hide publicou em 1983 um livro intitulado The Gift [O dom]. Ali ele explica a expressão "Índio Doador".
 
Um cacique americano recebe um inglês em sua tenda; num gesto de amizade, fuma um cachimbo junto com o convidado e depois lhe oferece o cachimbo como presente. O cachimbo, um pequeno objeto valioso, é - para o cacique - uma oferta simbólica da paz que circula constantemente de tribo em tribo, nunca "pertencendo" realmente a ninguém. O inglês não entende isso, fica feliz da vida com sua nova posse e, assim, não entende nada quando, poucos meses depois, outro chefe tribal vai à casa dele e, após fumarem juntos, põe-se a olhar o anfitrião aguardando que ele lhe dê o cachimbo de presente. O inglês não consegue compreender como alguém pode ser tão grosso a ponto de querer ganhar algo que pertence a ele.

Hide conclui:
"O contrário do 'índio doador' seria algo como o 'branco guardador' (...) isto é, uma pessoa cujo instinto é retirar a propriedade de circulação (...) O índio doador (ou o original, pelo menos) entendia uma característica central do presente: o que ganhamos não deve ficar guardado e sim ser doado outra vez (...) O único elemento essencial é o seguinte:

A dádiva deve sempre circular."


* * *


Temos tantas coisas a por para circular... Não apenas materiais.

Por quê acumulamos tantas coisas? Ficamos a esperar um uso útil no futuro, e esse dia nunca que chega.

Enquanto isso, a dádiva continua enjaulada.

* * *

Faça algo para ela circular nessa semana.

Seja algo que está no armário pegando poeira: roupas, livros, qualquer coisa que possa ser útil para alguém.

Seja uma mensagem bonita que receba e ela te traga a lembrança de uma pessoa. Faça a mensagem chegar nela.

Acredite, isso pode fazer a diferença. Não é por outra razão que se chama dádiva.

Sejamos mais índio e menos inglês.


Fonte: A arte de Pedir, Amanda Palmer




4 comentários:

  1. Estamos em perfeita sintonia . Hoje mesmo, fiz circular uma mensagem que me enviaram e que a recebi com muita emoção ...mas ao lê-la, percebi que a referida msg parecia ter sido feita especialmente para uma grande amiga e apenas num clique fiz chegar ate ela . Espero que tenha gostado assim como eu ... e a msg dizia assim: Muitas vezes nesta vida nós somos o remédio da vida de outras pessoas..."Quantas vezes você já curou uma pessoa com seu abraço..." Com um sorriso...Com uma mensagem... Ou com um simples olhar... "Obrigado por fazer parte da minha caixinha de remédios . Uma msg como essa tem que circular , não pode ficar parada !!!! Dag

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  2. E, se engaiolado, o amor não flui, a amizade não caminha, os sonhos não acontecem, as palavras não confortam, as mensagens são em vão...

    E você, continua fazendo circular mensagens que fazem a máquina pensante e sentinte não parar!

    Parabens grande amigo! Não imagina (ou sabe muito, muito bem!!!) o quanto faz bem ler o que escreve... Cutucando e fazendo incomodar e, quem sabe, fazer acontecer!!!!

    Um bom dia pra você!!!

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  3. Inclusive esse livro, "A ARTE DE PEDIR", o senhor índio Dom pode por pra circular! Como "pidona" que sou, preciso aprender melhor a arte! E por aqui, roupas e livros sempre circulando, é hora de circular sentimentos também! Valeu a 'mijada' indireta!
    234!

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  4. De minha parte, hoje corri 12km e disse bom dia para todas as pessoas que encontrei no caminho. Algumas responderam e outras, não.

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Fiado só amanhã.
Obrigado e volte sempre.